Como ter sucesso no RH

Marcelo Nobrega, colunista da Think Work, em seu artigo de estreia dá as dicas para quem quer ser bem sucedido na carreira de recursos humanos

Outro dia, mentorei Mariana, uma jovem inteligente, com boa formação e vontade de aprender e de crescer profissionalmente. Apesar de estar concluindo o curso de Engenharia Ambiental, ela queria saber como trilhar uma carreira em recursos humanos.

RH não é escolha para a maioria dos jovens que entram no mercado de trabalho. Os líderes da área também vieram de outros departamentos e “caíram” em recursos humanos por acaso – a convite de um chefe, geralmente. Foi o meu caso. No livro Grandes Líderes de Pessoas (Benvirá, 224 págs.), a jornalista Daniela Diniz destaca 14 profissionais de RH que são referência no mercado. Apenas quatro deles escolheram essa carreira; os demais sequer se formaram em humanas – a maior parte cursou engenharia, como eu.

Mas não dizem que é preciso gostar de gente para trabalhar em RH?

Gostar de gente é bom, mas nem de longe o suficiente para avançar na carreira. Em qualquer caminho, o segredo de ser bem-sucedido é “fazer acontecer”. Em gestão de pessoas, isso se traduz em entregar o que as empresas precisam para alcançar o resultado que almejam. Nem sempre o esperado é o lucro, pode ser, por exemplo, fechar ou abrir as operações em um país, mudar o portfólio de produtos ou a estratégia de negócios, fazer um spin off ou comprar outra companhia.

Para crescer em RH é necessário, sobretudo, dominar o lado “hard” dos negócios. Significa saber três coisas:

  1. Conhecer o negócio da empresa. Visite os pontos de venda, converse com clientes, use os produtos (óbvio, né?), experimente os itens da concorrência, acompanhe os vendedores no campo. Em suma, esteja onde o negócio acontece, onde se gera receita;
  2. Entender a estratégia. Quais são as variáveis externas que influenciam ou podem vir a influenciar o desempenho da companhia? Geopolítica, macroeconomia, tecnologia, demografia, regulamentação? Quem são os principais concorrentes, fornecedores, produtos substitutos? [Michael] Porter ainda é leitura mandatória!
  3.  Compreender os demonstrativos financeiros. Qual o percentual de receita e a margem de contribuição de cada produto? Qual o perfil de cliente mais lucrativo? Que produtos precisam ser eliminados do portfólio? Qual o pipeline de inovação? Qual a estrutura de custos e lucratividade ao longo da cadeia de suprimentos?

O entendimento dos pontos acima permitirá que você alinhe as ações de recursos humanos com os objetivos de negócio.

Exclua das práticas de gestão de pessoas projetos que não contribuam para os indicadores da empresa.

Olhando para o lado pessoal, você deve desenvolver algumas habilidades para ser um profissional de sucesso. A meu ver, são elas:

  • Aprenda a fazer contas, justificar e priorizar as iniciativas de acordo com o retorno financeiro (o famoso ROI, Return on Investment). Quanto será gasto e quanto será recuperado? Se o ROI for negativo, não faça. Saiba usar uma calculadora financeira do tipo HP 12C (já existem aplicativos);
  • Seja o dono do orçamento de recursos humanos. Quanto e onde você investirá os recursos da empresa? Prepare, acompanhe e reporte. E, principalmente, não permita desvios;
  • Reduza os principais custos. Você já deve ter ouvido a expressão “custo é que nem unha, tem de cortar sempre”. RH, além de ter orçamento próprio, gerencia, pelo menos indiretamente, os dois maiores custos da empresa – a folha de pagamento e os benefícios. Seja forte na negociação com seus fornecedores: busque relações ganha-ganha, mas não se contente com pouco. Todo mundo tem uma “margenzinha” para entregar;
  • Tenha um balanced scorecard [um painel de métricas] que apoiem os indicadores de negócios. Vai por mim: mesmo ações que parecem intangíveis podem ser medidas. Turnover, absenteísmo, causas trabalhistas, sinistralidade do plano de saúde são questões importantes? Então meça, acompanhe e trabalhe para melhorá-las. Quanto custa 1% de rotatividade para a empresa? Comparado com outras do setor, esse número merece ser alterado? Não aja sobre o que não é problema. Não invente indicador apenas para tê-lo.
  • Tome suas decisões baseadas em dados e fatos. Aprenda a linguagem financeira e os conceitos básicos de probabilidade e estatística, tais como correlação, variância, elasticidade e causalidade. Isso permitirá que você dimensione corretamente cada desafio de gestão de pessoas e trabalhe para resolver a causa raiz, não apenas os sintomas. Apresente seu racional com gráficos e tabelas.
  • Ganhe produtividade usando a tecnologia. Com isso, você obtém eficiência e escalabilidade.  Acompanhe as novidades em inteligência artificial, distribuição em nuvem e internet das coisas (IoT).

A linguagem dos negócios vai lhe abrir passagem na empresa. Você vai conversar de igual para igual com pares de outros departamentos, será ouvido e convidado para participar de decisões estratégicas. Isso trará uma nova responsabilidade: a de ter as conversas difíceis. Você deixará de ser um tirador de pedidos, um cumpridor do que os outros pedem. Vai começar a dizer “não” e a fazer perguntas incômodas. Se a liderança embarcar em uma jornada de transparência, confiança e construção conjunta, em favor da empresa, vocês construirão uma organização de alto desempenho.

O domínio dessas novas habilidades não acontecerá da noite para o dia. A prática trará. Dê o primeiro passo.

Marcelo Nobrega
Marcelo Nobrega

É líder de RH com mais de 20 anos de experiência em grandes companhias e hoje também atua como investidor, mentor e conselheiro de startups. Escreve sobre carreira do profissional de recursos humanos para a Think Work.

Comentários Como ter sucesso no RH

  1. Muito bom Marcelo.
    Sucesso sempre!

  2. Arnaldo Franco disse:

    Excelente roteiro para redesenhar o Curriculum das universidades.

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