Você já abraçou uma mãe hoje?

Para a Today, Daniela Moreira escreve sobre o impacto dos resultados da pesquisa Parentalidade no Mercado de Trabalho, da Think Work

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Quando eu descobri que estava grávida, a primeira decisão que eu tomei foi fazer terapia.

Não porque fosse uma gestação indesejada ou imprevista. Estava tudo em ordem. Simplesmente porque eu achava que precisava me preparar para ser mãe da melhor forma possível.

E mergulhei fundo nessa missão: li livros, fiz cursos, assisti palestras, ouvi podcasts. Como boa nerd que sempre fui, estudei muito para passar nessa prova. 

E quando chegou o grande momento, imersa em turbilhão de emoções, descobri o que todo pai e mãe de primeira viagem descobrem muito rapidamente: eu não sabia absolutamente nada.   

De um parto bastante complicado a um puerpério repleto de contratempos, nada aconteceu como eu previa ou imaginava.

A quem me pergunta como foram meus primeiros meses como mãe, eu sempre digo que não foram difíceis. Foram impossíveis.

E, no entanto, aqui estou. Viva, mais forte, mais sábia, mais empática, mais ágil, mais flexível, mais eficiente e muito, mas muito, mais humilde do que jamais fui.

Me tornar mãe me ensinou a fracassar de uma forma que eu nunca tinha experimentado na minha existência e aprender com os meu erros com uma velocidade que eu não imaginava ser possível. Me ensinou a aceitar as minhas falhas e a reconhecer as minhas fortalezas.

Também me ensinou a ser muito mais pragmática e objetiva – cada segundo do meu dia é mais valioso hoje, seja para poder dar a atenção que meu filho precisa e merece, seja para encontrar um batalhado e também merecido momento para mim.

O trabalho tomou outras proporções, como absolutamente tudo na minha vida. Mas isso não significa que ele se tornou menos importante. Pelo contrário, garantir um bom futuro para o meu filho me deu muito mais propósito, senso de urgência e compromisso com tudo que eu faço.

Assim como eu, vi tantas mulheres (e homens) viverem essa metamorfose maluca, que nos faz ganhar superpoderes – que vêm, sim, acompanhados de grandes responsabilidades.

No entanto, o mundo corporativo segue tratando pais e (principalmente) mães como profissionais de “segunda classe”, que perdem imediatamente seu valor.

A pesquisa de Parentalidade que lançamos na última edição da nossa newsletter especial Think Forward, evidencia isso: 39% das mães que responderam o estudo já se sentiram menosprezadas no trabalho pelo fato de ter filhos. 

Embora a esmagadora maioria das mães e pais que responderam a pesquisa tenham sentido melhoras significativas em quase todas as suas habilidades comportamentais, eles se sentem menos valorizados e reconhecidos no mundo do trabalho por terem filhos. 

Mas um número ainda mais chocante saltou aos olhos quando o Matthias Wegener, nosso CKO, dividiu os achados preliminares com a gente: das pessoas que perderam um filho em algum estágio da gravidez ou depois de ter nascido, 83% afirmam que não tiveram apoio da empresa neste período.

Meu coração se partiu quando li isso na tela do computador. Fui ao nosso grupo da Think Work comentar. Pra minha tristeza, meus colegas dividiram exemplos ainda mais concretos desse descaso. 

Uma mãe que acabara de sofrer uma perda gestacional e foi obrigada a organizar a festa do Dia das Mães da empresa. Outra que teve a gestação interrompida e foi trabalhar no dia seguinte normalmente, sem ter coragem de se abrir sobre o assunto.  

Que tipo de ambiente estamos criando que faz com que mães e pais que acabaram de perder um filho se sintam completamente invisíveis na sua dor? 

Mas, para minha surpresa, a conversa evoluiu, naturalmente, para outro rumo: o que podemos fazer para mudar essa realidade? Como podemos dar voz a essas mães e pais que estão sendo tão negligenciados – como pessoas e como profissionais? 

Ideias foram surgindo e ficou claro, para meu imenso orgulho, que aqui, na Think Work, mães e pais não são invisíveis ou indesejáveis. Que essa é nossa cultura: não só não aceitamos o que está errado no mundo do trabalho como vamos arregaçar as mangas para tentar mudar essa realidade. Que esse é o DNA que está em cada um dos membros do nosso pequeno “gigante” time (feito de homens e mulheres, pessoas mais jovens e mais velhas, com e sem filhos): o da empatia e da indignação que leva à ação.

Nos meus meses “impossíveis” de começo de maternidade, o que mais me ajudou a seguir em frente não foram os elogios vazios, a positividade tóxica das redes sociais ou os conselhos mirabolantes (ainda que bem intencionados). 

O que me ajudou a atravessar o oceano de incertezas e inseguranças que invadiu minha vida foram os olhares e relatos de cumplicidade, os ombros disponíveis, os abraços sinceros.

Ao acompanhar a discussão que tivemos no grupo da Think Work sobre a forma como pais e mães são tratados pelo mundo corporativo, eu me senti, mais uma vez, fragilizada. Sofri pelas mães e pais que vivem cotidianamente essas situações absurdas (e tantas outras muito piores, que estão fora do alcance da minha bolha de privilégio). Sofri como mulher, como mãe, como ser humano. Mas também me senti, ao mesmo tempo, enxergada e acolhida pelo meu time. Me senti abraçada, como mãe. E isso fez toda a diferença.

Construir um ambiente corporativo mais acolhedor para pais e mães é um processo que envolve muitos desafios – de repensar jornadas, modelos de trabalho, políticas e benefícios a (talvez mais importante e mais complexo) mudar a cabeça de líderes, gestores e a própria cultura da empresa (discutimos algunas destes desafios no nosso último Think Work Group – em breve teremos um material bem bacana sobre o assunto).  

Mas a mudança pode começar de forma simples e genuína, em cada um de nós, como mostrou o episódio que relatei acima. Por isso, deixo aqui meu convite à reflexão: você já abraçou uma mãe hoje?

<strong>Daniela Moreira</strong>
Daniela Moreira

Fundadora e COO da Think Work, jornalista especialista em tecnologia e mestre em Mídia, Comunicação e Desenvolvimento pela London School of Economics and Political Science.

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