Jovens, diplomas e frustração: universidade já não garante bom emprego

Desemprego crescente entre graduados e queda no retorno financeiro do diploma mostram que o pacto social entre juventude e mercado de trabalho está em xeque

Durante décadas, o caminho para uma vida estável parecia bem definido: entrar na universidade, conseguir um bom emprego e crescer profissionalmente. Mas esse modelo, que orientou gerações, está ruindo. 

Segundo uma análise do The Economist, com dados dos Estados Unidos, Europa e Japão, os jovens com diploma universitário estão deixando de ocupar posições privilegiadas no mercado — e, em alguns casos, já perderam esse status completamente.

Nos Estados Unidos, um consultor da Oxford Economics revelou para o periódico que os trabalhadores entre 22 e 27 anos com ensino superior já apresentam uma taxa de desemprego maior que a média nacional. 

Outro indício do enfraquecimento desse pacto entre diploma e sucesso é o índice que mede quanto os graduados ganham a mais do que quem só tem o ensino médio. Nos EUA, esse valor caiu de 69% em 2015 para 50% em 2023, segundo estimativas da filial de Nova York do Federal Reserve, uma das unidades regionais do banco central do país. 

No Brasil, a tendência também é perceptível. Profissionais com ensino superior ainda têm salários mais altos do que os menos escolarizados: 126% a mais no segundo trimestre de 2024, segundo estudo do Instituto Brasileiro de Economia da FGV. No entanto, esse diferencial vem encolhendo: em 2012, a diferença era de 152%. 

A queda de 26 pontos percentuais sugere que, mesmo em um mercado historicamente desigual como o brasileiro, o diploma superior já não garante o mesmo retorno financeiro de antes.

A lógica do diploma perdeu força

As causas do fenômeno são complexas. Uma das explicações aponta para o crescimento acelerado das universidades e a queda na qualidade média dos cursos e alunos. 

Outra, sustenta que a demanda por trabalho qualificado mudou. Com o avanço da tecnologia, muitas funções antes restritas a graduados podem ser realizadas por pessoas com formação técnica ou sem diploma. 

A esse cenário se somam fatores macroeconômicos e geopolíticos que aumentam ainda mais a incerteza: a pandemia recente, conflitos armados, tensões comerciais e o risco constante de recessões em diferentes partes do mundo. 

Tudo isso afeta diretamente a confiança dos jovens em relação ao futuro do trabalho e sua estabilidade financeira.

Para as empresas, esse cenário é um alerta. Os recém-formados, especialmente os que ainda estão dando os primeiros passos na carreira, podem não chegar mais com a mesma confiança e clareza. 

Cabe aos profissionais de gestão de pessoas e lideranças prepararem o terreno para acolher e desenvolver esses talentos. Isso significa redesenhar etapas de atração e seleção, repensar o peso dado aos diplomas nos processos seletivos e, principalmente, reconhecer o potencial de quem ainda está aprendendo a se encontrar no mundo do trabalho.

Comentários Jovens, diplomas e frustração: universidade já não garante bom emprego

  1. Diploma é ponto de partida — não de chegada. Má qualidade do ensino superior A expansão desenfreada das universidades gerou uma avalanche de cursos com baixa exigência acadêmica, currículos defasados e pouca conexão com o mundo real. O resultado? Uma geração de graduados que sai da faculdade sem preparo técnico, sem repertório crítico e — pior — sem propósito.
    Falta de protagonismo universitário Muitos estudantes não enxergam a universidade como espaço de transformação, mas como obrigação burocrática. Poucos se dedicam a ser diferenciados em sua área: não buscam projetos, não se envolvem com pesquisa, não desenvolvem habilidades além do mínimo exigido. A formação vira um papel, não uma jornada.
    Mercado em constante mutação Enquanto isso, o universo comercial se reinventa a cada trimestre. Novas tecnologias, modelos de negócio, demandas por soft skills e agilidade estão redefinindo o que significa ser “empregável”. O diploma virou apenas um dos muitos critérios — e, em alguns casos, nem é mais o principal. Hora de repensar tudo. O futuro do trabalho exige mais que títulos: pede atitude, atualização constante, visão sistêmica e capacidade de aprender sempre. E também exige que empresas deixem de lado preconceitos etários e valorizem o que realmente importa: competência, ética e entrega.

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