Segundo a Think Work, 26% dos trabalhadores estão próximos do burnout, dado que reforça a urgência da mudança
A saúde mental no trabalho está no centro das discussões sobre bem-estar e produtividade. Com a atualização da Norma Regulamentadora nº 1 (NR-1), promovida pelo Ministério do Trabalho e Emprego (MTE), todas as empresas brasileiras que têm funcionários pela CLT deverão incluir a avaliação de riscos psicossociais em seus processos de gestão de Segurança e Saúde no Trabalho (SST).
A medida reconhece que fatores como estresse, assédio moral, metas excessivas, conflitos interpessoais e falta de suporte emocional afetam diretamente a saúde dos trabalhadores e, por isso, devem ser tratados como riscos ocupacionais e gerenciados de forma sistemática pelos empregadores.
Segundo o MTE, o prazo oficial para que as empresas se adequem é 26 de maio de 2025. A partir dessa data, elas deverão incluir os riscos psicossociais no seu programa de gestão, mas, em um primeiro momento, o foco será educativo: a fiscalização servirá para orientar, não para multar. As autuações só começam em maio de 2026, dando aos empregadores um ano para se ajustarem às novas exigências.
A seguir, exploramos os impactos para as organizações, RHs e demais trabalhadores, e como isso se conecta ao atual panorama da saúde mental no trabalho, segundo dados apurados pela Think Work.
O que muda com a nova NR-1?
A NR-1 sempre previu o controle de riscos no ambiente de trabalho, mas a nova versão explicita a obrigatoriedade da inclusão dos riscos psicossociais.
Na prática, as empresas passam a ter o dever de:
- Identificar e avaliar os riscos psicossociais no ambiente de trabalho
- Elaborar planos de ação com medidas preventivas e corretivas
- Monitorar e revisar continuamente as ações adotadas
- Registrar as informações de forma documentada no Programa de Gerenciamento de Riscos (PGR)
De acordo com o MTE, a fiscalização será feita tanto de forma planejada quanto a partir de denúncias recebidas. Setores com alta incidência de adoecimento mental, como teleatendimento, bancos e serviços de saúde, terão atenção prioritária.
Companhias que negligenciarem a gestão dos riscos psicossociais estarão sujeitas a advertências, autos de infração e outras penalidades previstas pela legislação trabalhista.
O que são riscos psicossociais?
Riscos psicossociais estão relacionados à organização do trabalho e às relações interpessoais no ambiente corporativo.
Isso inclui exigências emocionais elevadas ou constantes; metas inatingíveis ou jornadas exaustivas; falta de autonomia e de reconhecimento; assédio moral e conflitos entre colegas ou lideranças e ambientes onde há ausência de escuta ou de apoio
Esses fatores podem desencadear consequências como estresse crônico, ansiedade, insônia, depressão, burnout e até afastamentos por transtornos mentais.
O papel dos RHs e lideranças
A atualização da NR-1 exige uma atuação ainda mais estratégica do RH. Caberá à área promover ações que identifiquem e reduzam os fatores de risco com foco não apenas no cumprimento da norma, mas também na cultura organizacional e no bem-estar real das equipes.
Lideranças também devem ser capacitadas para lidar com o tema, promovendo escuta ativa, acolhimento e feedbacks construtivos.
A partir da mudança, medidas como flexibilização de horários, revisão de metas, canais de apoio psicológico e estímulo ao equilíbrio entre vida pessoal e profissional passam a ser ainda mais importantes.
Panorama da saúde mental nas empresas, segundo a Think Work
A 3ª edição da pesquisa Saúde Mental no Trabalho realizada pela Think Work revela que o tema ainda é um ponto cego em muitas organizações, mesmo diante de um cenário em que os impactos emocionais já são visíveis, mensuráveis e custosos.
Veja alguns achados:
- 36% dos profissionais sentem que o trabalho gera um nível de estresse alto e 12% afirmam que isso já afeta sua saúde física ou mental.
- Um terço não consegue se desconectar do trabalho fora do expediente por causa de demandas contínuas.
- 41% das empresas oferecem programas de apoio à saúde emocional. Mas, entre essas, 69% dos colaboradores nunca participaram de nenhuma iniciativa.
- 19% dos trabalhadores dizem que, em momentos de estresse, não se sentem apoiados pela equipe nem pelo gestor.
- 26% dos trabalhadores afirmam estar em algum nível preocupante de esgotamento (moderado, alto ou extremo). Ou seja, em média, 1 a cada 4 profissionais está próximo do limite.
Os dados mostram que a saúde mental não pode mais ser tratada como pauta secundária, mesmo que a atualização da NR-1 seja adiada.
Quase metade dos profissionais convive com um ambiente de trabalho que compromete seu bem-estar, enquanto a cultura da hiperconexão impede o descanso real e alimenta um ciclo de exaustão e de falta de suporte.
Diante desse contexto, a saúde mental precisa ser encarada como uma questão estratégica e estrutural. Ignorá-la compromete não apenas a qualidade de vida dos profissionais, mas também a produtividade, engajamento e retenção.
A atualização da NR-1 representa um avanço importante. Mas a transformação real só virá com a participação de lideranças e a construção de ambientes que priorizem, além de metas, a saúde e a humanidade no trabalho.