Com taxa de 14,5% de desemprego entre 16 e 24 anos, Geração Z busca alternativas inusitadas para manter rotina e convívio social
A crise de desemprego entre os jovens chineses tem levado a fenômenos inusitados. De acordo com uma reportagem da Fortune, em grandes cidades como Shenzhen, Xangai e Wuhan, trabalhadores da Geração Z estão pagando entre 30 e 50 yuans por dia (cerca de R$ 23 a R$ 38) para frequentar escritórios cenográficos oferecidos pela empresa Pretend to Work Company.
Esses espaços simulam ambientes corporativos e oferecem computadores, internet e até refeições, mas o objetivo não é apenas “fingir trabalhar”. Ali, os jovens podem se dedicar a processos seletivos, desenvolver projetos pessoais ou simplesmente conviver com outros que enfrentam o mesmo desafio.
Para especialistas, o atrativo está justamente em manter uma rotina de trabalho, em vez de permanecer isolado em casa, o que ajuda a preservar disciplina, autoestima e saúde mental durante longos períodos de desemprego.
Um reflexo de um problema estrutural
Segundo dados oficiais do governo chinês, a taxa de desemprego entre pessoas de 16 a 24 anos atingiu 14,5% em 2024. Mas, em anos anteriores, estimativas independentes chegaram a apontar números muito mais altos.
Um estudo de Zhang Dandan, professor da Universidade de Pequim, sugeriu que em 2023 a taxa real poderia ter alcançado 46,5%. O país suspendeu a divulgação das estatísticas, o que gerou desconfiança sobre a real dimensão do problema.
O cenário está relacionado a uma combinação de fatores: transformação econômica, excesso de diplomados em áreas com pouca demanda e descompasso entre a formação universitária e as necessidades do mercado.
Paralelamente, emergiram movimentos sociais entre os jovens chineses. Muitos optam por uma vida de mínima ambição, passando o tempo em casa navegando em redes sociais, descansando ou evitando qualquer pressão por grandes conquistas profissionais. Esses comportamentos, segundo especialistas, configuram também uma forma de protesto silencioso contra as condições atuais.
Para profissionais de RH, o caso da China serve como alerta sobre os impactos da falta de oportunidades em massa para jovens talentos. A escassez de vagas e os processos de recrutamento ineficientes provocam desmotivação, perda de confiança e fragiliza a saúde mental de toda uma geração.