Sustentabilidade é o caminho para futuro do trabalho

Patrick Schneider, pesquisador do futuro do trabalho, aborda a importância do RH se envolver neste tema

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Em novembro de 2018 concluí meu processo seletivo para o mestrado. Lembro do tamanho da minha felicidade quando recebi o retorno por e-mail. Ela era do tamanho da cara de perplexidade de minha par que estava bem na minha frente e me questionava: “Sustentabilidade?!? O que isto tem a ver com a sua carreira em Recursos Humanos?”.

Ao longo da carreira que desenvolvi até aqui por mais de duas décadas em RH, é provável que esta tenha sido a tônica que impulsionou meus passos: buscar navegar e explorar ambientes não óbvios para a área. 

Na minha visão, é indissociável refletirmos sobre o futuro do trabalho sem pensar a dinâmica do desenvolvimento sustentável e as mais diversas agendas ao redor do tema. 

No entanto, desde os primeiros dias pelos corredores da faculdade em que cursei o mestrado, percebia que a transformação do ambiente de trabalho dentro de organizações em algo sustentável, em toda a extensão da palavra, seria um grande desafio. 

Os cálculos de neutralização da pegada de carbono propostos por Vineet Dahiya, o princípio de Triple Botton Line de John Elkington e os esforços para demonstrar a importância de aprofundarmos o entendimento da entropia na dinâmica do decrescimento proposto por Nicholas Georgescu eu sua brilhante obra. Teorias relevantes pareciam ser sequestradas por uma mesma tendência preocupante: o “greenwashing”. 

Acredito que, quando veio ao mundo, o termo ESG buscou acomodar temas extremamente complexos para a realidade do bingo corporativo, que já possui acrônimos demais. 

Desde que Koffi Annam, então Secretário Geral da ONU, entoou pela primeira vez esta sigla, inúmeros foram movimentos no mercado para demonstrar o domínio de algo que, na verdade, traduzia-se em mero hype e gerava distorções graves da agenda original. 

A própria divisão dos 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável nestas três letras, ESG, traz desdobramentos problemáticos.

Olhemos para o item “Trabalho Decente e Crescimento Econômico”, por exemplo. Alguns profissionais o colocam na dimensão Social (S). Mas será que há como pensar a dimensão Governança (G) e não olhar para o trabalho escravo contemporâneo? Ou ainda a dimensão Ambiente (E) e não repensar as possibilidades de caminhos que os empregos verdes podem abrir no mundo do trabalho em um futuro próximo?

Para além do desafio semântico, tragédias como a vivida pelo Rio Grande do Sul recentemente apontam para a urgência de um olhar sistêmico para frear a degradação do nosso planeta.

E onde a área de RH entra nesta conversa?

Como pesquisador dentro da temática do Futuro do Trabalho, entendo que nas questões climáticas podem operar-se caminhos viáveis para que novas carreiras sejam propostas dentro das empresas, valorizando os empregos verdes, como já mencionado. 

Ainda na dimensão ambiental, repensar a realidade de moradia dos funcionários, pesando riscos e perigos, é outro caminho necessário.

Dentro da dimensão social, há muito espaço para a atuação no debate de equidade de gênero, refugiados, qualificação e requalificação profissional com foco no letramento digital, aspecto no qual ficamos muito atrás em comparação com outros membros dos BRICs. 

Estes são apenas alguns exemplos de como as organizações podem se posicionar, tendo como pano de fundo a dinâmica criada pela lógica ESG. Poderíamos nos aprofundar ainda mais nas temáticas da fome, paz entre nações, da manutenção dos rios e oceanos, do solo e a sua exploração, todos elementos presentes dentro da Agenda 2030. 

Amartya Sen, prêmio Nobel de Economia, vê o planeta de três maneiras. Enquanto globo terrestre, algo imaterial e sem dono. Enquanto conjunto de nações, uma abstração, onde agendas nacionais se encontram ou se chocam, afetando-nos em guerras, inundações ou queimadas fora de controle. Por fim, como um conjunto de micro comunidades, grupos locais que têm o poder de nos mobilizar em torno de causas maiores e mais significativas.

Em tempos de tanta polarização política, vimos a força da mobilização em “comunidade” que os brasileiros tiveram ao redor das terríveis enchentes que inundaram o estado do Rio Grande do Sul. Um sinal de que temos uma capacidade enorme como nação para buscarmos nos apoiar em causas ambientais desta proporção.

Eu, assim como Amartya Sen, acredito que o belo da vida se esconde nos detalhes. O momento é de integração e interseccionalidade das agendas para construirmos um futuro em que possamos coabitar neste planeta de forma verdadeiramente sustentável. 

Neste cenário, tenho convicção que o universo do trabalho tem muito para colaborar. No RH, encontramos profissionais com a profundidade e a capacidade necessárias para apontar novos caminhos para um planeta que pede ajuda. 

Patrick Schneider

Executivo de RH, escritor e pesquisador na temática futuro do trabalho.

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Comentários Sustentabilidade é o caminho para futuro do trabalho

  1. Depois de aposentado com quase 70 anos, a faculdade em RH e ´pós-graduação em gestão gestão pública, mas sua proposta me deu o estalo de uma discussão do meio ambiente , vou trilhar essa ideia maravilhosa para o campo do trabalho

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