Em mais um artigo para a Today, Silene Rodrigues escreve sobre o equilíbrio da vida pessoal com a vida profissional
Pois é. Em minha opinião, esse termo “Quiet Quitting” é um equívoco de semântica que tem levado à uma série de interpretações acaloradas e divergentes.
De um lado, alguns acreditam que os “quiet quitters” são jovens que não se dedicam ao emprego ou que não têm coragem de se demitir e, portanto, passam a ter uma performance sofrível, talvez na esperança que a empresa tome a decisão por eles e os demitam.
Por outro lado, há aqueles que defendem que trata-se de um movimento legítimo da geração Z, que quer ter o direito de usufruir das coisas boas da vida, que estão muito além do trabalho.
Eu não concordo nem com um lado, nem com outro. Tampouco tenho a pretensão de estar correta em meu entendimento. Apenas venho refletindo sobre o tema e penso um pouco diferente.
Em primeiro lugar, eu não acredito que esse sentimento seja exclusivo da geração Z. Eu pertenço à geração X, aqueles nascidos entre os anos de 1965 e 1981, mais ou menos, afinal essa noção de tempo pode ser bastante relativa e não estou aqui para rotular ninguém. Fato é que eu sinto o mesmo.
É certo dizer que, como muitos contemporâneos meus, eu já fui “workaholic”. Pensava que todo o propósito de minha vida se resumia ao emprego. Até gostava de trabalhar longas horas por dia e levar trabalho para casa nos finais de semana.
Era como se isso representasse a importância que eu tinha para a organização, como eu era indispensável e a certeza de uma carreira bem-sucedida.
Mas isso foi há muito tempo, antes que eu percebesse que pode haver espaço para muito mais coisas em meu dia a dia, basta criá-lo. E é muito mais prazeroso quando você estabelece os limites, entregando o seu melhor em cada área da vida.
Há dias ou fases em que as circunstâncias requerem que trabalhemos além das horas normais, realizemos mais do que o esperado em determinado projeto, ofertemos mais do que 100% de nosso talento para a organização. Mas cuidado! Isso não pode se tornar rotina.
Se a pandemia trouxe algum aprendizado, é que precisamos cuidar da mente tanto quanto cuidamos do corpo. Isso envolve trabalhar num ambiente saudável. Uma boa dica é dividir o seu dia em 3 momentos distintos:
- Tempo para produzir: quando você imerge no trabalho solitário, criando e produzindo com foco e atenção plena;
- Tempo para colaborar: quando você compartilha a criação e produção com os colegas de trabalho, pares, chefes, subordinados, cultivando uma relação de parceria, com papéis e responsabilidades claros, bem como reconhecimento e respeito às habilidades de cada um;
- Tempo livre: aquele momento em que você libera sua mente e seu corpo para o descanso, lazer, família, amigos, amor, ócio e qualquer coisa que lhe traga prazer.
O equilíbrio entre esses três momentos é que nos faz mais saudáveis, que liberam a criatividade e que trazem mais sentido à vida.
Penso que o tão falado movimento “quiet quitting”, que chegou na carona do “the great resignation”, é um pedido de ajuda para que possamos desfrutar da nossa própria companhia, da companhia dos demais, realizando o nosso potencial em sua totalidade.
Por isso acredito que, se há algo de errado no movimento, é não dedicarmos a atenção necessária para que possamos entendê-lo corretamente e tomar as ações necessárias para um futuro do trabalho melhor para as pessoas e as organizações.
Acho que vale refletir e tirar suas próprias conclusões. Essas são as minhas.