O RH também sente

Neste artigo, Marcela Lázaro reflete sobre a importância de quem cuida de pessoas também acolher suas próprias emoções

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Atuar em Recursos Humanos, vista como “a área que cuida das pessoas”, é uma missão complexa, que exige resiliência, empatia e equilíbrio emocional. Por trás dessas habilidades, no entanto, está algo frequentemente esquecido: os profissionais de RH também enfrentam o desafio de falar sobre o que sentem. Mesmo em ambientes com segurança psicológica, expressar sentimentos e dificuldades ainda pode ser interpretado como fraqueza.

Um estudo realizado pela The School of Life em parceria com a Robert Half ouviu 491 profissionais de gestão de pessoas (296 líderes e 195 liderados) em atividade em diferentes regiões do Brasil. À pergunta “Na sua empresa, você sente que tem liberdade para expor seus sentimentos e emoções?”, um índice considerável, 37,8%, respondeu que não. 

Esse cenário é confirmado por outro levantamento: a terceira edição do Panorama da Saúde Emocional do RH 2025, divulgada no Congresso Nacional de Gestão de Pessoas (Conarh) em agosto deste ano, revelou que oito em cada dez profissionais de RH já enfrentaram algum problema relacionado à saúde mental, e 78% se sentem sobrecarregados. Há diferenças entre os gêneros: enquanto as  mulheres se mostram mais ansiosas (45%), os homens relatam maior desmotivação (25%).  

Todos nós vivemos uma avalanche de sentimentos ao longo do dia, sejam positivos, negativos ou neutros. Mas, no caso de quem trabalha com gestão de pessoas, há um ponto a mais de atenção: a separação entre vida pessoal e profissional parece ser quase inexistente. O trabalho de apoiar colaboradores, muitas vezes, se mistura com as próprias emoções.

A sobrecarga e a dificuldade em separar papéis tornam o dilema ainda maior. Surge então a questão inevitável: vamos ignorar o que incomoda por medo de sermos julgados? Ou vamos buscar ajuda, assumir nossa vulnerabilidade e criar um espaço mais humano?

Como lembra a pesquisadora Brené Brown:

A vulnerabilidade não é sobre ganhar ou perder. É sobre ter a coragem de aparecer mesmo quando não é possível controlar o resultado.”

Sentir é um ato de coragem. Tanto experimentar emoções boas, geradas pela risada de uma criança ou o sucesso de um projeto, quanto lidar com as desagradáveis, causadas por atrasos, erros ou arrependimentos, fazem parte do processo de aprendizado e crescimento.

Uma prática simples pode ajudar nesse processo: a lógica da UVA — Útil, Verdadeiro e Amoroso. No episódio 351 do Lutz Podcast, a neurocientista Elisa Kozasa explica a técnica para guiar a expressão emocional, seja em relação a nós mesmos ou aos outros:

  • Útil: O que tenho a dizer será construtivo?
  • Verdadeiro: Estou sendo honesto?
  • Amoroso: Minhas palavras refletem cuidado e empatia?

Se uma dessas dimensões não estiver presente, vale repensar a abordagem. Essa prática promove segurança psicológica para todos, desde colaboradores, líderes e equipes de apoio.

Reconhecer, acolher e expressar emoções de forma saudável não é sinal de fraqueza, mas de humanidade. Quanto mais líderes e equipes abraçam a vulnerabilidade, mais fortes se tornam as relações e a cultura organizacional. Afinal, só consegue cuidar bem dos outros quem aprende, antes, a cuidar de si.

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Marcela Lázaro

Enfermeira do trabalho, gestora de saúde corporativa, com foco em inovação, ESG e desenvolvimento de ambientes de trabalho saudáveis

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