“Talvez o futuro do trabalho não seja sobre ter um emprego, mas sim ter uma proposta de valor clara”, reflete Silene Rodrigues. Leia o artigo na íntegra
Há alguns anos, perguntar sobre o fim da lealdade profissional soaria inquietante. Mas, hoje, essa é uma provocação necessária. O “trabalho fragmentado”, conceito cada vez mais presente nas discussões sobre o futuro do trabalho, desafia o modelo tradicional de dedicação exclusiva a uma única empresa, bem como inaugura um novo capítulo na forma como construímos nossas identidades profissionais.
No entanto, a ideia não é nova. Nos anos 1990, o pensador Charles Handy já falava sobre portfolio careers, que em tradução livre pode ser entendido como carreiras compostas por múltiplos projetos, papéis, assim como fontes de renda. Mas a aceleração veio com a chamada gig economy, impulsionada por plataformas digitais, mudanças geracionais e, mais recentemente, uma pandemia que redesenhou nossas relações com o trabalho.
Relatórios do Future Today Institute, liderado por Amy Webb, mostram que a pluralidade de papéis será uma marca das próximas décadas. A consultoria Deloitte aponta que até 2030, cerca de 50% dos profissionais globalmente vão trabalhar de maneira independente ou híbrida, com múltiplos vínculos. Já a McKinsey estima que mais de 36% da força de trabalho nos EUA já atuam em formatos não tradicionais.
O que move esse novo modelo? Liberdade. Autonomia. Diversificação de renda. A possibilidade de explorar múltiplos interesses e talentos — algo que autores como Rohit Bhargava, no livro Non-Obvious, chamam de human mode, isto é, uma recusa a caixinhas rígidas e uma valorização da autenticidade.
Mas há também desafios. O trabalho fragmentado pode levar à precarização, à ausência de vínculos emocionais e à insegurança financeira. Nem todos os profissionais estão dispostos — ou preparados — para navegar nesse novo terreno. Os dados mostram que pessoas com alto grau de qualificação, perfil multipotencial e rede de contatos ativa são as mais propensas a adotar esse modelo com sucesso.
Por isso, não se trata de glamourizar a fragmentação. Trata-se de entender o movimento de fundo e reconhecer que o contrato psicológico entre empresa e profissional está mudando. Em vez de exclusividade, os vínculos caminham para trocas mais horizontais, intencionais e baseadas em propósito.
Talvez o futuro do trabalho não seja sobre ter um emprego, mas sim ter uma proposta de valor clara. E saber onde, como e com quem colocá-la em prática.
Você está pronto para isso?