A autoestima e o desempenho

“É comum conectarmos a autoestima com a beleza. Quando, na verdade, ela é um conceito ético”, escreve Flavia Ibri, head de RH da IQVIA para América Latina

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“Liberdade é o que você faz com o que foi feito com você”, dizia Jean Paul Sartre, filósofo e novelista francês. Em outras palavras: a situação não te define. O que te define é a forma como você enfrenta a situação. E isso está profundamente relacionado à autoestima.

Autoestima é a reputação que cada um tem de si mesmo. Em sentido amplo, funciona como um filtro interno que interfere na forma como vemos e interagimos com o mundo. Segundo o psicoterapeuta Nathaniel Branden, um dos pioneiros a estudar o tema, se trata da base do sistema imunológico emocional que faz alguém crescer ou se apequenar diante de um desafio.

A história de vida de cada um influencia, mas não determina, a autoestima. Ela também não é fixa: muda quando você muda. E, da mesma forma, pode − e deve − ser desenvolvida. Afinal, a autoestima está intrinsecamente ligada ao desempenho e ao sucesso individual. Mas, infelizmente, além de ser um tema pouco abordado, é distorcido em sua essência.

É comum conectarmos a autoestima com a beleza. Quando, na verdade, ela é um conceito ético – não estético. “Parecer” e “saber” não constroem a autoestima. “Ser” e “fazer” descrevem melhor as ações associadas a esse processo.

Ao contrário do que o marketing nos treina a acreditar, não são grandes acontecimentos, compras ou eventos que definem quem somos e quão sadio é o sistema imunológico emocional de cada um. É possível desenvolver a autoestima por meio da ação com direção, seguindo a metodologia dos microcomportamentos.

A autoestima dá ao indivíduo a “antifragilidade”, termo que ficou conhecido pela obra de Nassim Taleb. Mais do que a resiliência, que possibilita “aguentar” os problemas, a antifragilidade traz a capacidade de aprender e de melhorar com os desafios naturais da vida. Equilibrada, a autoestima se transforma em um potente motor para cada um lidar com a própria realidade. Ela desperta na pessoa a postura de “ou ganho ou aprendo”. E leva à sensação de competência perante os acontecimentos.

Se autoestima se constrói na ação, é justamente na insatisfação sem ação que mora o grande vilão da história. Todas as pessoas têm, a cada escolha, a possibilidade de adotar uma atitude para tornar a autoestima cada vez mais saudável.

Segundo Branden, os comportamentos que constroem são também os que expressam a autoestima. Ou seja, tudo o que é fonte de autoestima, é também a sua expressão. Integridade é fonte de autoestima e sua expressão.

Enfrentar a vida sem entender a construção da autoestima pode levar a uma sensação de inadequação ou vazio.

É quando muitas pessoas seguem por caminhos que não levam ao equilíbrio nem à paz interior. A busca por reconhecimento externo, curtidas e compartilhamentos dos posts nas redes sociais não resolvem as dores do interior.

O humano é o único ser que precisa se considerar apropriado e competente para viver bem. É também o único que precisa da própria avaliação racional para evoluir. E, em sua trajetória, deve conhecer suas forças e seus valores.

Como o aprendizado se dá na ação e como a vida não pula etapas, o melhor conselho para construir a autoestima é fazer as pazes com os erros ao longo do caminho. Usá-los como trampolins, não amarras. 

Não há resultado ruim. Ruim é não saber e não se movimentar na direção certa. Desenvolver e fortalecer autoestima é ter real consciência das suas limitações, bem como da própria capacidade de alcançar o que deseja − e ser feliz por inteiro. Ser livre, como na frase de Sartre.

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Flávia Ibri
Flávia Ibri

Líder de recursos humanos para América Latina da IQVIA

Comentários

  1. DAVI RODRIGO DE GODOY BUFALO disse:

    Que texto lindo. Muito grato por compartilhar

  2. Márcia disse:

    Gostei muito do seu texto. Simples de entender e mantendo a importância ao tema. Parabéns!

  3. Marcelo Queiroz disse:

    Excelente reflexão ainda mais em tempos de tantos desafios q passamos o que impacta muito na auto estima das pessoas! Gratidão e admiração !!

  4. Excelente texto Flávia. Muito bem escrito – simples e direto, como eu gosto. E, não tinha pensado sobre a diferença da resiliência e da antifragilidade – bem interessante este approach. Vou refletir sobre isto. Um grande abraço e parabéns 👏.

  5. Elisabete Alves disse:

    Muito bom o texto Flavia. Grata por compartilhar!

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