Pais de adolescentes são os que menos utilizam apoio psicológico oferecido pelos empregadores, segundo dados da Think Work
A minissérie britânica Adolescência, lançada pela Netflix em março, tem gerado repercussão mundial ao abordar o caso de um garoto de 13 anos acusado de assassinar uma colega de classe.
A trama mostra como o adolescente foi influenciado por fóruns extremistas na internet e trouxe à tona discussões sobre os riscos da radicalização juvenil, o papel das famílias e os desafios enfrentados por pais e mães de jovens.
No Brasil, dados da Think Work indicam que a parentalidade na adolescência ainda é um tema pouco desenvolvido dentro das empresas.
Entre os trabalhadores que têm acesso a apoio psicológico fornecido pelas empresas, o índice de utilização do benefício é de 43% para quem tem filhos entre 6 meses e 1 ano de idade. Já entre os pais de jovens de 15 a 18 anos, a taxa de uso cai para 33%.
A mesma tendência é observada em relação ao amparo psicológico para os próprios filhos. Mesmo quando está disponível, apenas entre 24% dos adolescentes entre 10 e 14 anos e 29% daqueles entre 15 e 18 anos fizeram uso do serviço.
Esse cenário indica uma subutilização dos recursos oferecidos pelas empresas à medida que os jovens crescem, o que pode estar relacionado à falta de comunicação sobre a política de benefícios, barreiras culturais ou ausência de ações mais robustas voltadas para essa fase da vida.
Situações de luto também apontam lacunas de acolhimento
O levantamento da Think Work também aponta diferenças na forma como o suporte psicológico é acessado em situações de luto.
Um ponto que chama atenção é que, entre os trabalhadores que perderam filhos adolescentes, apenas 13% utilizaram o auxílio psicológico oferecido pela empresa — o menor índice entre todas as faixas etárias analisadas.
A título de comparação, quando a perda foi gestacional, 45% dos trabalhadores buscaram apoio. E quando o filho perdido era adulto, o índice salta para 83%.
Segundo especialistas, o luto por filhos adolescentes carrega características particulares. Sendo a adolescência uma fase delicada em vários aspectos, em muitos casos, a morte está associada a contextos de vulnerabilidade emocional, conflitos familiares, acidentes ou violência, o que pode acrescentar camadas de culpa, estigmas e isolamento ao processo de luto.
Sem uma rede de apoio estruturada, esses cuidadores tendem a se calar mesmo quando há recursos disponíveis para acolhê-los.
Parentalidade e o papel das empresas
Nos últimos anos, muitas organizações passaram a reconhecer a importância de políticas voltadas à parentalidade, especialmente na primeira infância, com avanços em licença parental, apoio à amamentação e auxílio-creche.
No entanto, familiares de adolescentes podem ainda não estar sendo efetivamente atendidos, já que, mesmo quando há benefícios, são os que menos os acessam, inclusive em situações extremas como a perda de um filho.
Para os RHs, reconhecer a parentalidade de adolescentes como uma etapa que também demanda suporte é fundamental. Isso pode incluir desde a flexibilização de jornadas para acompanhamento de filhos em crise, até a ampliação da cobertura de saúde mental e o preparo de lideranças para acolher essas situações com escuta e empatia.
Ao ampliar o conceito de cuidado dentro dos companhias, pode ser possível não só apoiar os colaboradores em momentos decisivos da vida familiar, mas também fortalecer uma cultura organizacional mais inclusiva e conectada com as realidades contemporâneas.