Pesquisa da Think Work e do iFood Benefícios mostra que pessoas pretas e pardas enfrentam mais barreiras na educação e na ascensão profissional. Isso gera gaps salariais que chegam a 35% em algumas funções e impactos na saúde mental e financeira
Mesmo sendo maioria no país (55%, segundo o IBGE), a população negra, que considera pessoas pretas e pardas, segue com menos oportunidades.
De acordo com o estudo Desafios e Oportunidades: A Realidade dos Profissionais Negros no Brasil, desenvolvido pela Think Work em parceria com o iFood Benefícios, as disparidades começam antes da entrada no mercado formal, aparecem no acesso à educação, se aprofundam nos cargos hierárquicos e se refletem na renda, no endividamento e na saúde mental.
Educação, trabalho e liderança
Segundo a pesquisa, cerca de 41% dos profissionais negros chegaram ao ensino superior, mas entre os brancos o índice é de metade dos entrevistados. Na pós-graduação, a distância aumenta para 32% entre pessoas brancas e 18% entre pessoas negras.
Na pirâmide corporativa, o retrato é semelhante. Na base das organizações, pretos e pardos representam 53% dos trabalhadores, mas ocupam somente um terço da média gerência e 28% da alta liderança. O movimento contrário aumenta o desequilíbrio: funcionários brancos representam 47% na base, mas chegam a 72% entre diretores.
A disparidade ainda é evidente na remuneração. Pessoas brancas ganham, em média, 4.634 reais, e pessoas negras recebem 3.261 reais. Em funções como analista, a diferença salarial chega a 35%.
Impacto financeiro e emocional
Anos de desequilíbrio, injustiça e preconceito têm impacto direto na vida dos trabalhadores e de suas famílias, a começar pela saúde financeira.
Com médias de salários menores e oportunidades reduzidas, entre os profissionais negros entrevistados, cerca de três em cada dez conseguia poupar parte do salário. Entre os brancos, a média supera quatro em cada dez.
Além disso, mais da metade dos respondentes pretos e pardos estão endividados (52%), embora a maioria considere a situação sob controle. Entre os participantes brancos, o percentual de endividados é de 41%.
Essa combinação de fatores também pode afetar a saúde mental. A pesquisa mostra que apenas 17% dos profissionais negros dizem se sentir bem todos os dias, enquanto entre os brancos esse índice chega a 30%.
Urgência de mudar e inspiração para transformar
Os dados da Think Work e do iFood Benefícios reforçam a necessidade de lutar contra o racismo com ações intencionais, visando ampliar o acesso ao desenvolvimento pessoal e profissional, reduzir as desigualdades e promover a presença de pessoas negras em posições estratégicas nas corporações.
E embora ainda haja muito a ser feito, esse movimento já inspira empresas que entendem que os negócios também têm responsabilidade social e buscam formas diferentes de melhorar a vida e o trabalho dos funcionários.
Na última edição do prêmio Think Work Innovations, 60% das organizações chanceladas como inovadoras estipulavam metas para presença de pessoas negras na liderança, contra 37% das concorrentes que não receberam o selo.
Como prova, ao longo dos anos, o Inovations recebeu muitos projetos voltados para a equidade racial.
Na edição de 2024, por exemplo, a TIM foi um dos destaques com o programa TIM Pérolas Negras. A ação, que contou com sensibilização interna, trilhas de aprendizagem e aceleração de talentos próximos à liderança, capacitou cerca de 1.100 funcionários negros e superou a meta de 40% de colaboradores pretos e pardos.
Outro exemplo vem do Hospital Albert Einstein, que lançou o Programa de Liderança Ubuntu, voltado à formação de líderes inclusivos. Os principais resultados foram uma maior consciência racial dos participantes e diversos projetos para ampliar a presença de profissionais negros — como incentivo à contratação de mulheres negras e de médicos negros.
Juntos, os dados da pesquisa e os exemplos apresentados mostram que a equidade racial não avança apenas com boas intenções, mas com investimento real, políticas consistentes e compromissos assumidos pelas organizações.
O movimento já está em curso, e o desafio agora é garantir que essas ações deixem de ser exceção e se tornem parte estruturante do futuro do trabalho no Brasil.

