Reinventar-se aos 50+: o auge que ninguém vê

Para Silene Rodrigues, profissionais acima dos 50 anos reúnem experiência, estabilidade emocional e pensamento crítico

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Por muito tempo, acreditamos que juventude é sinônimo de desempenho máximo. Essa ideia moldou práticas corporativas, planos de carreira e até programas de desenvolvimento. Mas estudos recentes desafiam essa percepção: o verdadeiro pico funcional do ser humano pode ocorrer bem depois dos 50.

Um artigo publicado na revista Intelligence mostra que, enquanto a inteligência fluida (resolver novos problemas rapidamente) declina após os 20 anos, outras competências continuam crescendo: inteligência cristalizada, empatia, resistência a vieses cognitivos e habilidade para lidar com dilemas éticos. Entre 55 e 60 anos, atingimos um equilíbrio poderoso entre conhecimento acumulado, estabilidade emocional e capacidade de decisão – atributos críticos para liderar e transformar.

Eu sou prova disso. Mulher 50+, quase 60, que pensa em se reinventar todos os dias. Trabalho ativamente com inteligência artificial para executar tarefas rotineiras, criar conteúdos, analisar dados e acelerar decisões. Mas não é um uso passivo: aplico todo meu conhecimento e experiência para revisar, criticar e aprimorar o que a IA produz e, muitas vezes, até ensino a ferramenta a pensar melhor. Para mim, tecnologia é parceira, não substituta. É um diálogo constante entre inteligência humana e artificial que de nenhuma forma está associada à minha idade. Não me deixei levar pelo estigma que insiste em rotular a idade como limite. Para mim, idade não é um freio, é combustível para produzir, aprender e viver com ainda mais intensidade.

E sabe o que mais me faz refletir? Já presenciei situações em que jovens executivos, promissores, diplomados pelas melhores universidades, não conseguiram sair do PPT lindo e inspiracional para lidar com o mundo real. Não porque faltasse capacitação, mas porque nunca tinham vivido situações imprevistas e emergenciais. Faltava-lhes experiência, aquela que só a vida pessoal e corporativa traz, e a tranquilidade para lidar com o incerto, tomar decisões difíceis e liderar sob pressão.

Pesquisas reforçam essa vantagem da maturidade:

  • Um estudo da Universidade de Michigan revelou que dois terços dos adultos que continuam trabalhando após os 50 relatam impacto positivo na saúde física, mental e bem-estar geral, além de manter o cérebro ativo e reduzir riscos de declínio cognitivo;
  • Relatórios da EY e da Harvard Business Review apontam que profissionais acima de 50 anos não apenas mantêm a produtividade, como lideram projetos inovadores, atuando como mentores e acelerando o desenvolvimento das gerações mais jovens;
  • A Gartner alerta para uma “crise de expertise” causada pela saída acelerada de profissionais seniores, comprometendo inovação e continuidade dos negócios. Empresas que promovem diversidade etária e programas de mentoria registram ganhos significativos em inovação e resultados sustentáveis.

No mundo corporativo, isso é um alerta. Em um cenário que valoriza velocidade e inovação, profissionais maduros são frequentemente vistos como “menos adaptáveis” ou “caros demais”. Esse estigma não só é injusto, como é contraproducente. Pessoas na faixa dos 50 e 60 anos e além podem estar no auge para tomada de decisões complexas, liderança e papéis estratégicos.Reinventar-se aos 50+ não é resistência ao tempo. É evolução. É potência.
E talvez seja hora das empresas enxergarem isso como vantagem competitiva, não como custo.

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Silene Rodrigues

Diretora de Recursos Humanos na Adidas.

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